Mitologia Hindu

O PANTEÃO HINDU

Publicado, traduzido e adaptado por Rafael_Brito em 08/1/2007

Seguindo os ensinamentos da própria Mitologia Hindu, o nome do deus Ganesha deve ser chamado antes de qualquer trabalho. Assim sendo, iniciaremos essa nova seção mitológica falando sobre esse importante deus hindu.
 
Ganesha – O deus que remove os obstáculos

Ganhesa
 
Ganesha é o mais cultuado deus hindu. Seu nome é invocado antes de qualquer trabalho ou empreendimento, pois ele é considerado o deus que remove os obstáculos (vignam), sendo também conhecido como Vigneshwara.
 
Ele possui uma cabeça de elefante e quatro braços. Ganesha tem uma enorme barriga e adora doces e frutas. Em torno de sua barriga, ele usa uma cobra como adorno.normalmente, ele é representado de pé, sentado ou dançando.
 
Brahma – o Deus da Criação

Brhama

 
Brahma representa a força que cria tudo no universo. Nesse papel, ele é ajudado por sua consorte Sarasvati, que é possuidora do sumo conhecimento. Juntos, são responsáveis por infundir alma aos seres vivos. Segundo algumas lendas, Brahma nasceu do umbigo do deus Vishnu, quando este avistou a encantadora Lakshimi, deusa da beleza e da fortuna. Em outros contos, Brahma surgiu de um ovo de ouro, posto por Brahman (a energia espiritual suprema) nas águas primordiais que originariam toda a existência. Após o ovo ter se rachado, libertando o deus, suas duas metades tornaram-se o céu e a terra São muito raros os templos dedicados a Brahma, pois não há um culto separado para este deus (diferentemente do que ocorre com Vishnu ou Shiva). Conforme a mitologia, Brahma teria sido amaldiçoado por Shiva (por ter proferido uma mentira e ofendido seu ego) e, portanto, não seria cultuado. Ainda assim, em todos os templos dedicados a Vishnu e a Shiva há a imagem de Brahma.
 
Ganga – O Rio Sagrado
 
Ganga 
Ganga é a deusa do sagrado rio Ganges. Ela originalmente vivia nos céus, mas foi trazida à Terra por Bhageeratha, que queria enviar seus ancestrais à salvação. Eles haviam sido queimados pela fúria do sábio Kapila, sem que ninguém pudesse lhes fazer os ritos de funeral apropriados. Assim, suas almas não podiam ascender aos céus. Bhageeratha contou com a ajuda do deus Shiva, que suportou a força do fluxo do rio enquanto este descia à terra. Desejando desequilibrar o deus, Durga utilizou toda a sua força nessa descida. Ainda assim, Shiva era mais que páreo para essa deusa, e facilmente conseguiu dominá-la, prendendo-a com suas emaranhas trancas internas. Ouvindo as súplicas de Bhageeratha, Shiva liberou um pequeno fluxo do rio para a terra. Esse minúsculo fluxo liberado é o grandioso rio Ganges, que nasce no Himalaia.
 
Hanuman (Anjaneya) O deus-macaco

Hanuman
 
Hanuman, o deus-macaco, é intitulado Chiranjeevi (de vida eterna). Ele é forte, valoroso e possui vários poderes e habilidades. Ao mesmo tempo, ele é sábio e um grande iogue (praticante da yoga). Possuía um único pensamento: servir a seu senhor Rama com extrema devoção e humildade. Ele é adorado nos templos como Bhaktha Hanuman ou Veera Hanuman. Como Bhaktha Hanuman, ele é visto com as duas mãos juntas, postas em oração. Como Veera Hanuman, aparece com seu cetro em uma mão e o sanjeevi Parvatham na outra. Hanuman teve um papel muito importante no grande épico Ramayana. Quando Rama foi banido de seu reino (Ayodhya) por sua mãe Kaikeyi, teve de partir para a floresta, acompanhado pela esposa Sita e pelo irmão Lakshmana. Sugreeva, com seu exército e Hanuman, escondia-se de seu irmão Vaali naquela mesma floresta. Lá Hanuman encontrou Rama, a quem desde então jamais deixou. Quando Sita foi raptada por Ravana, um rei-demônio, Hanuman voou por todo o mundo até encontrá-la. Ele tornou-se o mensageiro da paz na corte de Ravana. Ajudou Rama a atravessar o oceano, construindo uma ponte. Durante uma guerra, voou para buscar a montanha Sanjeevi, repleta de ervas medicinais, para reviver Lakshmana, que havia caído em batalha. Quando o vitorioso Rama retornou a Ayodhya e foi coroado rei, Hanuman continuou a servi-lo. Hanuman aparece também no épico Mahabaratha, aliando-se aos Pândavas na guerra contra os Káuravas. Ele estabilizou e protegeu a carruagem de Arjuna, estando presente no estandarte preso ao veículo.
 
Indra – O rei dos céus

Hindra
 
Indra é o rei dos Devtas, o deus do trovão, filho de Aditi com o sábio Kashyapa. Sua grande cidade nos céus chama-se Amaravathi. Ele possui um elefante chamado Iyravata e uma vaca sagrada de nome Kamadhenu. Essa vaca é capaz de realizar qualquer desejo; portanto, Indra é muito rico. Indra também possui uma árvore chamada Kalpatharu, que rende riquezas. Sua rainha e consorte é Sachi. Os Asuras são seus inimigos mortais, e a guerra entre asuras e devtas jamais teve fim e, por vezes, os Asuras conseguiram subjugar os Devtas, como se descreve no próprio Rig Veda. Seu feito mais importante foi a derrota do asura Vritra, que era um dragão (ahi). Vritra encerrava, em seu interior, todos os elementos vitais do universo e, para libertá-los, Indra enfrentou e derrotou o demônio. Em suas batalhas contra Vritra e outros demônios, como Namuci, Diz-se que Indra não é propriamente um indivíduo, mas o nome genérico para o rei dos céus. No Rig Veda, Indra é descrito como o deus mais poderoso. De todo modo, em textos posteriores, sua importância foi consideravelmente diminuída. Ele já não é o todo-poderoso, tendo de sujeitar-se à trindade suprema de Brahma, Vishnu e Shiva.
 
Kama, o deus do amor

Kama

 
Kama é o deus do amor e da luxúria. É também chamado Manamatha, e é o mais belo entre homens e deuses. Ele usa um arco de cana-de-açúcar, com o qual lança flechas de flor nos humanos, para fazê-los apaixonarem-se. Ele é casado com Rati, uma das filhas de Daksha. Há certa confusão para definir sua origem. O Vishnu Purana (um dos Puranas – importantes obras hindus) o traz como filho de Dharma (Yama) e Shradha (uma filha de Daksha). De todo modo, uma versão mais popular, baseada no Shiva Purana, apresenta Kama como filho de Brahma Certa vez, quando Shiva se entristecera pela morte de sua esposa Sati e decidira abandonar o mundo, os Devtas temeram pelo destino do universo. Eles sabiam que, caso Shiva não se alegrasse novamente, o mundo estaria condenado ao fim. Eles queriam que o deus se apaixonasse novamente e tivesse filhos. Assim, eles encarregaram Kama dessa tarefa, pois tal era seu ofício.
 
Shiva – Deus da Destruição

Shiva
 
Shiva é o deus da destruição, aquele que, juntamente com Brahma (o criador) e Vishnu (o preservador), faz completar-se o ciclo da exitência. Em seu divino papel, é ajudado por sua consorte, Parvati, a deusa da desintegração. Shiva é normalmente adorado na forma do falo (Linga) fixo em um pedestal. O Linga representa a energia primordial do criador. O Linga, adorado como símbolo do deus Shiva em diversos templos, é geralmente feito de pedra, consistindo em três partes. A porção inferior, com a forma de um quadrado, representa Brahma. A parte central, com a forma de um octógono, simboliza Vishnu. Estas duas partes são embutidas em um pedestal. A terceira parte, um cilindro que se projeta acima do pedestal, representa o deus Shiva. Shiva reside em altas cadeias de montanhas nevadas. As representações de sua forma física costumam mostrar o deus calmamente meditando. Seus ornamentos não são os usuais enfeites de pedra ou ouro. Ele usa um colar feito de crânios, representando seu papel como destruidor. Possui cobras enroladas em seu corpo e seus cabelos se estendem por todo o céu. A lua crescente adorna sua coroa, simbolizando seu controle sobre o ciclo do tempo. Ele cobre seu corpo com cinzas e usa peles de tigre e de elefante. Possui também um terceiro olho, fonte de conhecimento e sabedoria. Assim, a referência a Vishnu meramente como destruidor de toda a existência não é precisa. O deus representa o poder que, no devido momento, guiará a todos no retorno à origem de toda a existência; ele é a força que, ao destruir tudo que existe, permite a continuidade, a perpetuação do ciclo existencial.
 
Surya – O Sol
 
Surya 
Surya é o sol. Tal como Chandra, ele é tanto Devta como Navagraha (um dos nove astros/planetas de grande importância nos rituais hindus). De acordo com o PurushaSuktam (do Rig Veda), ele surgiu dos olhos de Purusha, o homem primordial, quando este foi sacrificado. Surya tem duas esposas, Sangya (filha de Vishwakarma) e Chaaya. Ele tem muitos filhos, sendo o mais conhecido Shani (saturno), que é também um dos Navagrahas. Algumas fontes também trazem Kama como filho de Surya. Dentre os planetas, seus inimigos são Rahu e Ketu. Tal inimizade decorre do incidente da busca pelo Amirtham (néctar da imortalidade), que também envolveu um dos avatares de Vishnu, Kurma. Suas virtudes são exaltadas no hino de Aditya Hridayam. Nesse hino, ele é adorado como senhor do universo, origem de todas as bênçãos.
 
Vishnu – Deus da Preservação

Vishnu
 
Vishnu é o deus da proteção e da manutenção de toda a vida. Sua esposa, Lakshimi, representa a riqueza (não só material, mas de alimentos, de coragem, de espírito, de felicidade e de descendentes), que tem grande importância à preservação da vida. Vishnu e Lakshimi, portanto, preservam as almas introduzidas por Brahma no ciclo da vida. É descrito como um belíssimo deus, de pele azul como o infinito. É geralmente representado com quatro braços, e nas mãos leva uma concha, um disco (o chackra), um cetro e a flor de lótus. Sua montaria é o pássaro solar Garuda, filho de uma divindade primordial, Kasiapa. Segundo algumas lendas, foi Vishnu o criador do deus Brahma (que teria nascido de seu umbigo) e do deus Shiva (surgido de sua testa). Como Vishnu-Narayana, ele teria trazido o universo à vida, através de sua própria energia, chupando o dedão do pé como um bebê, enquanto flutuava nas águas primordiais sobre uma folhe de bananeira.
 
Yama – O deus da Morte

Yama
 
Talvez, à exceção de Indra, nenhum outro personagem védico tenha sofrido tantas transformações no tempo dos Puranas. No Rig Veda, Yama é o filho de Saranyu (filha de Tvashta, o deus-artesão) e Vivasvant (associado com o sol). Em trechos diferentes do Rig Veda, Yama é o homem primordial. Sua irmã gêmea, Yami, o chama de "o único mortal" em um diálogo do Rig Veda, em que o incita a cometer incesto com ela. Em sua integridade, Yama rejeita os pecaminosos avanços da irmã. Ele afirma: "Os deuses estão sempre vigiando nossas ações e devem punir os pecadores". Yama voluntariamente escolhe a morte, partindo para o outro mundo. Ele encontrou o caminho para a terra de seus antepassados; a Morte é seu reino. Mas tal escolha causou imensa aflição a Yami, que ficou inconsolável. Quando os deuses tentaram fazê-la para de chorar, ela respondeu: "Como posso eu não lamentar, se hoje é o dia da morte de meu irmão?!" – e, para curar seu sofrimento, os deuses criaram a noite. Desde então, a noite segue o dia, e o ciclo do tempo teve início.
 
Agni – O Fogo
 
Agni
Agni é o deus do fogo, filho de Dyaus (o céu) e Prthvi (a terra) e irmão gêmeo de Indra, segundo o Rig Veda. Em outras fontes posteriores, como os Puranas, ele aparece como filho de Aditi e Kashyapa. No Rig Veda, o primeiro canto refere-se a Agni, invocando suas bênçãos sobre a humanidade e exaltando suas virtudes como sacerdote divino, senhor do sacrifício. Junto a Indra, Agni é o mais importante Devta. Cerca de 200 hinos dirigem-se a ele no Rig Veda. Agni é intimamente identificado com sua forma do fogo sacrificatório. Diz-se que ele tem muitas faces (as chamas do fogo), cor fulva (a cor das chamas), cabelos de fogo e barba também de cor fulva. Com sua cabeça ardente, ele enxerga todas as direções; com sua língua (as chamas), ele engole as oblações (Havis). Madeira ou ghee é o seu alimento. Ele brilha como o sol. Sua luz é igual à do raio que sai das nuvens. Brilha mesmo à noite, dispersando a escuridão com sua resplandecência. Quando atravessa as florestas, deixa para trás uma negra trilha. Suas chamas são como ondas rugindo, e seu som é como o trovão.
 
Sarasvati
 
Sarasvati
 
Sarasvati é a consorte de Brahma (o deus da Criação) e a deusa da sabedoria e do aprendizado. Ela é considerada a personificação de todo o conhecimento – artes, ciências e todos os demais ofícios e habilidades. Ela é vista como a elegante representação da pureza e da sabedoria. É representada como uma bela mulher, de vastos cabelos negros, sobre uma flor de lótus, geralmente acompanhada por um pavão e por seu vahana, um cisne (que, por saber distinguir o leite da água, representa a sabedoria da deusa em separar o bem do mal). Possui quatro braços; em uma das mãos, carrega um livro, em outra, um rosário. Com as outras duas mãos, ela toca a veena (instrumento de cordas). Tal como Brahma, ela não é adorada em muitos templos. De todo modo, ao menos uma vez no ano, os professores, estudantes, artesãos e outros trabalhadores fazem uma celebração em sua honra, oferecendo suas preces por mais um ano de bons trabalhos.
 
Lakshmi

Lacshmi
 
Lakshmi (ou Lakshimi) é a deusa da riqueza e prosperidade, consorte de Vishnu (o Preservador). É associada com Sri, uma deidade pré-védica da fertilidade. Lakshmi é a fonte de riqueza (não só material), fortuna, prosperidade, amor e beleza. Nas encarnações (avatares) de Vishnu, ela também tomou várias formas para acompanhá-lo, como Sita (esposa de Rama) e Rukmini (esposa de Krishna). Ela é possuidora de grande beleza e é representada tanto em pé como sentada, mas sempre sobre uma flor de lótus. É geralmente acompanhada por dois (às vezes quatro) elefantes, que aparecem entregando-lhe adornos ou borrifando água sobre a deusa. Possui quatro braços e, com os dois superiores, carrega flores de lótus. Nos outros dois braços (em algumas representações) leva o amirtha kalasam (pote com ambrosia) e um jarro que transborda com ouro e outras preciosidades.
 
Parvati

Parvati
 
é a mãe divina (Sakthi), consorte do deus Shiva. Em seu aspecto sereno, ela é também conhecida como a deusa Uma, sendo usualmente representada junto a Shiva e a seus filhos, Ganesha e Murugan. Possui apenas duas mãos, sendo que na destra (em algumas representações) segura um lótus azul. Em seus aspectos tempestuosos, é comumente adorada sob os nomes de Durga e Kali. Essas formas são tomadas pela deusa quando é preciso destruir alguma forma do mal e, portanto, sequer precisam invocar o medo, pois ela é apenas a mãe zelosa que combate o mal e preserva a eterna paz e felicidade de seus filhos. Como Durga, ela representa o poder supremo que preserva a ordem moral e a probidade na criação.
 
Durga

Durga

 
também chamada Mãe Divina, protege a humanidade da dor e da miséria, destruindo as forças do mal como o egoísmo, o ciúme, o preconceito, ódio e a raiva. Seus dezoito braços significam que ela possui o poder combinado das nove encarnações do deus Vishnu na Terra. As diferentes armas em suas mãos (tal como a maça, a espada, o disco, a flecha e o tridente) trazem a idéia de que uma só arma não é capaz de derrotar todos os inimigos. Durga possui também um terceiro olho (em sua testa), veste-se com um belo sári vermelho e, às vezes, é vista sobre uma flor de lótus ou uma cabeça de búfalo. Como Kali (a deusa do Tempo*), ela apresenta seu mais temível aspecto, geralmente retratada em um enterro ou em um campo de guerra. Em algumas imagens, ela aparece de pé sobre um cadáver, usando uma guirlanda de crânios e com seus cabelos soltos e desordenados. *De fato, kali significa "preto", e kala (uma palavra diferente) significa "tempo". Possivelmente, foi deste trocadilho kali-kala que veio a idéia de Kali (verdadeiramente, a negra deusa da cremação), como também deusa do tempo.